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    A Porta da vida: entre vírus e mitos

    Como esta frase dita por Jesus no evangelho de João faz tanto sentido para nós hoje. Esta frase que resume toda a missão de Jesus; resume todo o Evangelho. “Eu vim para que tenha vida, e a tenham em abundância!” (Jo 10,10). Em meio ao drama que estamos vivendo, uma tragédia humana sem precedentes na história recente, mais do que nunca precisamos de vida, de acesso à vida, de “vida em abundância”. Mas a vida que Jesus nos oferece não é apenas para esse momento. Ele não nos oferece somente “saúde”. Alguns pensam que ter vida em abundância significa apenas viver com saúde, não ter nenhuma doença, viver bem, ser feliz, aproveitar a vida, não ter problemas, sofrimentos, cruzes. Na lógica do Evangelho não é assim, a vida não se reduz a isso. Jesus fala de uma vida em plenitude, mesmo quando precisamos enfrentar algum sofrimento, uma doença; mesmo carregando uma pesada cruz. O discípulo de Cristo não pode confundir “vida plena” com “bem-estar” ou “qualidade de vida”. O cristão sabe que essa vida em plenitude do Evangelho não significa simplesmente uma vida sem problemas, sem sofrimentos, sem sacrifícios. É muito mais do que isso... O capítulo 10 do Evangelho de João nos apresenta o único acesso, o único caminho, a única “Porta” para encontrarmos essa vida plena: é Jesus! Nos últimos séculos, especialmente nas últimas décadas, muitas outras “portas” se abriram, muitos outros caminhos surgiram para a humanidade. Alguns pensavam (e ainda pensam) que o progresso tecnológico iria resolver todos os problemas. A salvação viria pela via da racionalidade técno-científica. Outros acreditaram (e ainda acreditam) nas ideologias políticas, as correntes mais diversas e antagônicas. Outros, ainda, apostaram tudo no progresso econômico, no dinheiro, no capital, no consumo. Nos anos 60, um jovem padre, professor de teologia, já escrevia em suas obras alertando para o perigo desses “mitos”. Ele elencava especialmente os “mitos” da razão, da ciência, da técnica, do progresso e da política. Era Joseph Ratzinger, futuro Bento XVI. Atualmente esses mitos continuam aparecendo sob novas roupagens, reeditados, repaginados, ainda mais perigosos. Como nos recordou muito bem o pregador do Papa Francisco, o Frei Catalamessa, na última Sexta-feira Santa, foi preciso apenas um vírus – um dos menores seres da natureza, minúsculo e invisível – para nos despertar do “delírio da onipotência” em que vivíamos. Esse é o delírio do homem moderno: acreditar que pode tudo, que não precisa mais de Deus, da fé, da religião; que pode viver como se Deus não existisse. Temos agora uma oportunidade, um tempo favorável para reencontrarmos o verdadeiro caminho da salvação, a única “Porta” que nos dá acesso à essa vida plena, que também é vida eterna.

    Pe. Eleandro Teles

     
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